Ensino especializado para superdotados avança no DF
São 1.573 estudantes, a maioria de escola pública, que frequentam uma das 20 salas para alunos com altas habilidades no DF
O ambiente é diferente do resto da escola: conta com decoração particular, que tem valor sentimental para quem passa horas preciosas da semana ali. Os quadros pendurados na parede e espalhados por todos os cantos mostram que o espaço é frequentado por artistas talentosos. Banners com conteúdo avançado de matemática e outras disciplinas revelam que, no lugar, o estudo é levado muito a sério. O cenário descrito fica no Centro de Ensino Fundamental nº 1 do Guará e é uma das 20 salas de recursos específicos para alunos com altas habilidades mantidas pela Secretaria de Educação.
A expectativa é que, até o início do próximo semestre, outras três sejam implantadas em escolas de Santa Maria, do Recanto das Emas e do Paranoá. As novas salas já estão selecionadas. Funcionarão no Centro de Atenção Integral à Criança (Caic) de Santa Maria, no Centro de Ensino Fundamental nº 306, do Recanto das Emas, e na Escola Classe nº 4, do Paranoá. Os locais atenderão a uma demanda de cerca de 120 alunos e ajudarão a diminuir a fila de espera pelo atendimento. Somente no Guará, 20 alunos aguardam por uma vaga na classe dos superdotados.
No fim de abril, foi regulamentada a lei que garante educação especializada aos alunos de Brasília identificados com altas habilidades. O decreto trouxe peso a esse tipo de atendimento, que ocorre desde 1976 no Distrito Federal.
Leitura precoce
São 1.573 beneficiados, sendo que 70% vêm de escolas públicas e 30% de instituições particulares. Alunos como Davi Roberto Targino, de 6 anos, que, desde o ano passado, frequenta uma vez por semana as aulas na sala de recursos específicos do Guará. O atendimento dura três horas por semana, é complementar ao ensino regular e ocorre no contraturno da escola.
A percepção de que Davi pudesse ter algum tipo de necessidade especial veio quando ele fazia o maternal II, aos 2 anos de idade. O garoto começou a ler os nomes dos coleguinhas nas etiquetas que marcavam os lugares. Então, os pais notaram que o filho tinha algo diferente. Procuraram psicólogos e pesquisaram muito antes de entender que o menino precisava de um atendimento especializado. Atualmente, ele está inserido em uma classe de habilidades acadêmicas, que contém, de acordo com a demanda de cada sala, professores específicos, como de matemática, português e história.
“Aqui nós temos professor de matemática, mas em Taguatinga tem de português, por exemplo; isso depende da necessidade de cada regional”, detalha Mônica Doria Vilaça, professora itinerante do Guará. Esse tipo de profissional é quem visita as escolas públicas de cada região, explicando aos professores do ensino regular e aos pais dos estudantes a importância de observar os alunos e detectar características marcantes de alguém com altas habilidades. Além disso, acompanha a realidade de quem estuda em instituições particulares e é atendido no Centro de Ensino Fundamental nº 1.
O trabalho minucioso de Mônica, há 12 anos na área, assim como o do restante da equipe, é elogiado pelos pais, que enxergam no ensino diferenciado uma oportunidade única para os filhos. “Muitas vezes, o superdotado é visto como um problema, pois a escola não sabe como atender à necessidade dele. Aqui, tanto a instituição regular quanto a família aprendem a entender e a lidar com a situação”, explica Valéria Amorim Luz, mãe de Amanda, de 10 anos. A garota participa, há um ano, de uma turma de habilidades acadêmicas, como Davi, e de outra de habilidades artísticas — existem essas duas opções. Na sala de artes, os estudantes podem ter idades distintas e são estimulados a desenvolver um dom específico, como pintura ou desenho.
Segundo Mônica, é comum que pessoas com altas habilidades sejam tímidas e tenham dificuldade de relacionamento com outras da mesma idade. Outras características são facilidade de aprendizado, criatividade elevada, curiosidade e senso crítico. No entanto, segundo a professora, é comum que um estudante superdotado desenvolva disposições para conteúdos específicos: “Ele pode ser bom em matemática e apresentar dificuldade em português, por exemplo.”
Inquietação
O cantinho colorido é repleto de olhares atentos que não desgrudam da tela. Quem hoje produz ali sequer fazia ideia de que a inquietação na escola regular tivesse um motivo. “Muitos chegam aqui tímidos, sem acreditar na riqueza do talento enorme que eles têm, pois, na escola, não se sentem incluídos”, explica a professora da turma de habilidades artísticas do Guará, Rosângela Meneses Pacheco.
O estímulo necessário, que chega a mudar o roteiro de muitas histórias, atravessa o lado simplesmente profissional. Rosângela recebe encomendas dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos constantemente. Muitos vendem as obras e com o dinheiro ajudam nas despesas de casa.
Lucas Ciqueira Gomes, de 14 anos, tem aulas com a professora desde os 9 e há pouco conseguiu vender o primeiro quadro. Os alunos participam de exposições e diversas vezes são levados pelos docentes a passeios culturais para que entendam que é possível, sim, viver da arte que produzem. “É muito comum que os estudantes com altas habilidades sejam tímidos, retraídos, e quando há um trabalho como esse desenvolvido aqui é o mundo que ganha”, diz Rosângela. Por isso, a importância de perceber os sinais. “Na escola, era tudo fácil, insuficiente”, resume o garoto.
Equipe
No Guará, são atendidos cerca de 90 alunos, divididos nos períodos matutino e vespertino e nos cinco dias da semana, sempre no contraturno da aula. As salas de recursos estão espalhadas pelo Plano Piloto (Asas Sul e Norte), Brazlândia, Ceilândia, Cruzeiro, Gama, Guará, Lago Norte, Núcleo Bandeirante, Planaltina, Samambaia, São Sebastião, Sobradinho, Taguatinga e Varjão.
Cada turma tem uma equipe multidisciplinar à disposição, composta por professores especializados, professor itinerante e psicólogo. O cadastro para a classe é realizado mediante ficha de indicação específica do atendimento de altas habilidades, que pode ser preenchida pela família ou pelos professores.
Mais informações:
Núcleo para Altas Habilidades / Superdotação: (61) 3901-3246
Fonte: Agência Brasília
http://www.jornaldebrasilia.com.br/noticias/cidades/620712/ensino-de-superdotados-avanca-no-df/
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