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SUPERDOTAÇÃO PELO MUNDO - NOTÍCIA DA ÁFRICA


"É importante dar atenção às crianças superdotadas"


Manuel Kawanga de Sousa

Fotografia: Jornal de Angola
A atenção às crianças, em especial àquelas que têm uma capacidade intelectual mais elevada ou apresentam indícios de tal, deve ser uma preocupação de todos os membros da sociedade, para se tirar maior proveito das suas capacidades. 
O defectólogo Manuel Kawanga de Sousa disse à reportagem do Jornal de Angola que é fundamental que o Ministério da Educação em colaboração com o da Reinserção Social e a Associação dos Profissionais da Educação Especial crie uma comissão nacional para analisar a situação. 
O especialista em defectologia (ramo da pedagogia que trata do desenvolvimento de crianças superdotadas) disse que na maioria dos casos as crianças apresentam indicadores, visto que não existem ainda condições, ao nível do país, para avaliar a capacidade criativa e de inteligência individual. 
Manuel Kawanga destacou que são fundamentais programas especializados para descoberta destes “pequenos génios” no país, de maneira a ter, no futuro, quadros com melhor capacitação. 
“Actualmente trabalho em alguns consultórios do Ministério da Educação, assim como no centro de diagnóstico de orientação psicopedagógica e já vi várias crianças com bons indicadores de serem superdotadas”, destacou. 
Para o especialista, formado em Cuba, que exerceu, durante anos, o cargo de director do centro de diagnóstico e orientação psicopedagógica do Ministério da Educação, a ideia de crianças superdotadas mentalmente precisa também de ser acompanhada por alguns requisitos como um indicador de amplitude, análise profunda da capacidade intelectual, académica e psico-motora da criança. Para tal, esclareceu, é fundamental que o Ministério da Educação, em colaboração com o da Reinserção Social e a Associação dos Profissionais de Educação Especial, crie uma comissão nacional para analisar a situação destas crianças especiais. 
“Quanto a esta situação, o Ministério da Educação já teve algumas iniciativas criando salas exclusivas e multifuncionais, nas quais as crianças com um ritmo de aprendizagem normal estudem com quatro ou mais meninos com uma capacidade de aprendizagem especial”, adiantou. 


As crianças que estão no sistema de aprendizagem especial têm trabalhado na base do programa educativo e especial, partilhando as suas ideias com os menos dotados. 
“É uma forma de incentivar as crianças a estudarem mais e tentarem igualar aquelas bem dotadas intelectualmente. Assim, se uma criança do programa normal sabe contar de um até dez não devemos limitá-la e sim substituir o seu programa por outro, porque quando uma criança não aprende como ensinamos devemos ensiná-la como ela quer”, realçou.

Meios especializados

O defectólogo destacou que é preponderante serem construídos centros especializados para o acompanhamento destas crianças superdotadas. “Em alguns países da Europa já existem programas do género. É preciso seguirmos o mesmo passo para não termos uma criança dotada ‘amputada’, por mau aproveitamento delas”, frisou. O especialista destacou que a ausência de programas específicos e material como guias e cadernos de metodologia e de actividades científicas tem dificultado o trabalho dos outros técnicos. “É necessário que se elaborem mais instrumentos próprios para estas crianças”, referiu. O especialista disse também que é importante existirem quadros especializados neste sector, para que a formação seja administrada adequadamente. 
“O acompanhamento sistemático deve explorar mais as potencialidades das crianças, independentemente dos programas criados para o efeito”, adiantou. 
Manuel Kawanga acrescentou que quando as potencialidades das crianças superdotadas não são bem aproveitadas elas têm tendência a levar as suas ideias para as práticas negativas. “É devido à falta de cuidados especiais para estas crianças que as instituições de direito precisam de dar mais atenção à educação especial”, frisou. A Associação dos Profissionais de Educação Especial, disse o defectólogo, tem vários especialistas em desvio de conduta e comportamento.

O papel dos pais

Os pais que têm filhos superdotados devem procurar ajuda dos técnicos especializados e não imitar os modelos estrangeiros, pois a maioria deles não se baseia na realidade do país. 
“É preciso que os pais saibam que a melhor forma de ajudar as suas crianças é colocá-las no sistema de ensino normal, de onde elas vão ser melhor avaliadas e recolocadas em salas especiais. Esta deve ser a regra porque, infelizmente, em Angola ainda existem muitas crianças fora do sistema de ensino”, justificou. O especialista informa que através de consultas regulares o pai pode ter ideia se a criança é ou não superdotada. 
“Geralmente fazemos alguns testes, que podem não ser dos mais qualificados, porque nos faltam materiais, mas são suficientemente lógicos para dar veracidade aos mesmos”, disse, acrescentando que caso a criança tenha potencial não pode ficar à deriva, pois pode criar sérios problemas à sociedade. 
Manuel Kawanga realçou que, na maioria dos casos, essas crianças sentem-se isoladas e desenquadradas, visto que possuem conhecimentos fora do comum. 
“Mas o programa educativo individual do Ministério da Educação é uma resposta positiva para este problema. Por isso, queremos que este projecto seja mais abrangente a partir do próximo ano”, rematou. 
Jorge Pedro, do Instituto de Educação Especial, disse que o Ministério da Educação está a trabalhar num projecto de atendimento às crianças superdotadas. 
“As crianças superdotadas possuem um nível de aprendizagem muito elevado e carecem de uma atenção especial, principalmente do Ministério da Educação”, disse. 
O director do Centro de Diagnóstico e Orientação Psico-Pedagógica, Damião Fortunato, garantiu à reportagem do Jornal de Angola que o Centro ainda não registou casos de crianças com indicadores de superdotada. 
“O facto de não registarmos casos de crianças superdotadas não implica que estejamos com as mãos atadas. Temos 41 técnicos, entre defectólogos, psicólogos e pedagogos, que estão a trabalhar em vários municípios e distritos de Luanda”, frisou.


Fonte: Jornal de Angola (on line) 18/11/2012

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