Jovens,
superdotados e negligenciados
Estudantes com fraco desempenho são ignorados pelos orçamentos
THE NEW YORK TIMES
Tanto Barack Obama quanto Mitt Romney estudaram em escolas privadas de
elite. Ambos são, inegavelmente, inteligentes e bem-educados e devem muito de
seu sucesso à forte base que obtiveram em excelentes escolas.
Todo jovem americano motivado e de alto potencial merece uma
oportunidade semelhante. Mas a maioria das crianças extremamente inteligentes
não tem os meios necessários para se matricular em escolas particulares
rigorosas. Eles dependem da educação pública para prepará-los para a vida. No
entanto, esse sistema não está conseguindo criar oportunidades suficientes para
centenas de milhares desses meninos e meninas de alto potencial.
Na maior parte das vezes, o sistema os ignora, com políticas e
prioridades orçamentárias que se concentram em proporcionar uma melhoria do
nível dos alunos que obtêm resultados fracos. Isso é algo bom e necessário, mas
nós não conseguimos melhorar ainda mais o nível de quem está bem acima da
média.
O descaso da educação pública para com os alunos de alta capacidade não apenas nega aos indivíduos as oportunidades que eles merecem. Ele também põe em risco as futuras provisões de cientistas, inventores e empresários do país.
O descaso da educação pública para com os alunos de alta capacidade não apenas nega aos indivíduos as oportunidades que eles merecem. Ele também põe em risco as futuras provisões de cientistas, inventores e empresários do país.
Essa falha sistêmica observada nos dias de hoje ocorre de três formas.
Primeiro, temos muitas dificuldades em identificar as crianças
"talentosas e superdotadas" cedo, principalmente se elas são pobres
ou se são membros de grupos minoritários ou não têm pais esclarecidos e
insistentes.
Segundo, nos níveis fundamental e médio de ensino, não temos salas de
aula suficientes para alunos acima da média (com professores e grades
curriculares adequados) para atender nem mesmo a demanda existente. O Congresso
negou financiamento ao Programa Jacob K. Javits de Educação de Alunos
Superdotados, única iniciativa de Washington para incentivar uma educação desse
gênero. Confrontados com as limitações no orçamento e a pressão do Governo
Federal para dar um jeito em escolas de péssima qualidade, muitos distritos
estão deixando de oferecer aulas avançadas, bem como de artes e música.
Terceiro, muitas escolas limitam bastante as aulas de colocação avançada
ou para alunos que têm mérito acadêmico, às vezes repletas de crianças que são
brilhantes, mas que não estão verdadeiramente preparadas para se sair bem
nelas.
De vez em quando, no entanto, aparecem escolas públicas que se
concentram exclusivamente em alunos superdotados e motivados. Algumas são
famosas em todo o país (Boston Latin, Bronx Science), outras são conhecidas
principalmente por sua própria comunidade (Walnut Hills, de Cincinnati;
Academia de Artes Liberais e Ciências, de Austin). Quando minha colega Jessica
A. Hockett e eu saímos à procura dessas escolas para uma pesquisa, descobrimos
que esse terreno nunca tinha sido mapeado antes.
Em um país com mais de 20 mil escolas públicas, encontramos apenas 165
dessas escolas, conhecidas como "exam schools" – escolas
diferenciadas para alunos que demonstram excelência no aprendizado. Elas educam
cerca de 1 por cento dos estudantes dos Estados Unidos. Dezenove estados não
dispõem de nenhuma delas. Apenas três cidades grandes têm mais de cinco dessas
escolas (Los Angeles não tem nenhuma). Quase todas têm candidatos mais
qualificados do que elas têm condições de acomodar. Por isso, trabalham com
práticas de admissão muito seletivas, afastando milhares de estudantes que
poderiam se beneficiar do que elas têm a oferecer. A aclamada Escola de Ensino
Médio Thomas Jefferson para a Ciência e Tecnologia, do Norte da Virgínia, por
exemplo, recebe cerca de 3.300 candidatos por ano – dois terços deles
academicamente qualificados – para 480 vagas.
Nós montamos uma lista, entrevistamos os diretores e visitamos 11
escolas. Aprendemos muito. Embora as escolas difiram em muitos aspectos, suas
ofertas de cursos lembram turmas de colocação avançada em termos de conteúdo e
rigor, conseguem resultados fabulosos de encaminhamento de alunos para as
universidades, e as melhores delas expõem os alunos à independência no estudo,
a estágios desafiadores e a projetos de pesquisa individuais.
Os críticos as chamam de elitistas, mas nós descobrimos o contrário.
Elas são escolas excelentes que são acessíveis a famílias que não têm como
pagar pelo ensino privado ou por casas em áreas residenciais caras. Embora as
escolas diferenciadas de algumas cidades não cheguem nem perto de refletir os
dados demográficos de seu entorno, o número de estudantes de baixa renda que se
matriculam nessas escolas, em âmbito nacional, é equiparável ao número de
alunos que se matriculam no Ensino Médio como um todo. Os jovens
afro-americanos são "sub-representados" e os asiático-americanos
também (21 por cento contra 5 por cento em escolas de Ensino Médio, no total).
Os latinos são sub-representados, mas os brancos também.
Isso não é tão surpreendente. Pais educados e de condição financeira
melhor podem ter acesso a várias opções para suas filhas e filhos superdotados.
As escolas privadas de elite ainda existem. Assim como New Trier, Scarsdale e
Beverly Hills. As escolas que nós estudamos, em geral, são oásis educacionais
para famílias que têm crianças de inteligência notável, mas poucas
alternativas.
Elas também são portos seguros – escolas onde todos se concentram no
ensino e na aprendizagem, não em manter a ordem. Eles têm times desportivos,
mas são as suas orquestras que se destacam. Sim, alguns já tiveram que reprimir
a prática da cola, mas não existe problema em ser nerd nessas escolas. O aluno
fica cercado por jovens como ele – alguns ainda mais inteligentes – e têm aulas
com professores capacitados que topam o desafio – professores que, com uma
frequência maior do que as equipes de grande parte das escolas de Ensino Médio
do país, têm título de Doutorado ou experiência na docência em nível
universitário. O aluno não precisa ser revistado para que se verifique se ele
está carregando uma arma antes de entrar na escola. E tem grandes chances de se
formar e conseguir entrar em uma boa faculdade.
Muitos outros alunos poderiam se beneficiar de escolas assim – e os números se multiplicariam se nosso sistema de ensino agisse da maneira correta com esses alunos nas séries iniciais. Mas isso só vai acontecer quando reconhecermos que não deixar nenhuma criança para trás significa prestar atenção tanto naquelas que já dominam o básico – e têm capacidade e motivação para fazer muito mais – como naquelas que ainda não sabem ler nem subtrair.
Muitos outros alunos poderiam se beneficiar de escolas assim – e os números se multiplicariam se nosso sistema de ensino agisse da maneira correta com esses alunos nas séries iniciais. Mas isso só vai acontecer quando reconhecermos que não deixar nenhuma criança para trás significa prestar atenção tanto naquelas que já dominam o básico – e têm capacidade e motivação para fazer muito mais – como naquelas que ainda não sabem ler nem subtrair.
É hora de acabar com o preconceito contra a educação de alunos
superdotados e talentosos e parar de presumir que todas as escolas devem dar
conta de tudo para todos os alunos, uma fórmula simplista que acaba
negligenciando a existência de uma diversidade de meninas e meninos, muitos
deles pobres e provenientes de grupos minoritários, que se beneficiariam mais
estudando em escolas públicas especializadas. Os Estados Unidos deveriam ter
mais de mil escolas de Ensino Médio para estudantes desse tipo, não 165, além
de escolas de Ensino Fundamental e Médio que identifiquem e preparem os seus
futuros alunos.
Com o apoio que demonstraram à ideia de que as famílias devem ter a
liberdade de escolher o local e o tipo da escola em que seus filhos estudam,
Romney e Obama também reconheceram que as crianças não são todas iguais e que
as escolas também não devem ser. No entanto, o medo de parecerem elitistas
provavelmente irá impedi-los de propor a criação de mais escolas diferenciadas.
O que é irônico e triste, considerando as escolas onde estudaram. As crianças
excepcionalmente inteligentes não deveriam ter de estudar em escolas privadas ou
ser recusadas pela Bronx Science ou pela Thomas Jefferson simplesmente porque
não há lugar para elas.
(Chester E. Finn Jr.,
presidente do Instituto Thomas B. Fordham e membro sênior do Instituto Hoover,
da Universidade Stanford, é autor, com Jessica A. Hockett, de "Escolas
diferenciadas: Por dentro das escolas de Ensino Médio mais seletivas dos
Estados Unidos".)
Fonte: Notícias R7
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